impecável

O público não chegou a lotar o Credicard Hall, talvez fruto de uma combinação do valor salgado do preço dos ingressos (R$ 140,00 a pista inteira), um certo desconhecimento do público em geral sobre a banda e o fato de duas noites seguidas de show dividir naturalmente os fãs entre as apresentações. Melhor assim: deu pra assistir ao show confortavelmente e acabou não prejudicando o fator "clima" entre platéia e banda.
Logo de cara uma "surpresa": uma passarela se estendendo a partir do palco, passando pelo meio do público e terminando numa mini-palco no meio da pista. Confesso que também não esperava um cenário tão bacana como o que foi montado. Achei que a apresentação do Keane seria mais minimalista, mas a coisa foi caprichado, com destaque para pequenos paineis distribuídos ao longo do palco onde, entre outras projeções, passavam imagens dos músicos capturadas ao vivo por câmeras de vigilância instaladas em postes que estavam em cena, dando um resultado extremamente cool!
Depois da execução do pequeno interlúdio que no segundo disco da banda antecede o hit Crystal Ball, o Keane já começa o show com tudo tocando Put It Behind You, também do excelente álbum Under The Iron Sea. Tom Chaplin não perde tempo na tarefa de conquistar o público. Aproveitando a proximidade da platéia com o palco, o vocalista se mostra um frontman extremamente competente e carismático, andando de um lado para o outro, lançando olhares tenros para as pessoas e interpretando com emoção cada música. Tudo isso com uma execução vocal perfeita. Aliás, apoiado por uma sonorização fantástica (das melhores que já ouvi num show de rock), o Keane reproduziu ao vivo exatamente o que se ouve nos discos. Pode-se até dizer que foi uma apresentação um tanto quanto burocrática, mas, no fim das contas, optar pelo esmero técnico e fidelidade às canções provou ser uma boa tática para o estilo musical da banda.
Lá pela metade do show, os três rapazes se acomodam no "palquinho" no meio do público, com um set minimalista de instrumentos. É o momento intimista da apresentação, com clima de show pequeno em um pub qualquer e os músicos cumprimentando as pessoas na platéia, distribuindo sorrisos, olhares e até tirando fotos da banda com a câmera de um fã. Já dava pra sentir a chegada de Hamburg Song que foi tocada com a platéia quase que completamente em silêncio, coisa rara de se ver num show desses. Emoção total que, confesso, me fez derramar algumas lágrimas.
Banda de volta ao palco principal, segue-se a outra metade das quase duas horas de show, por onde desfilaram praticamente todas as canções dos dois álbuns, quase sempre acompanhadas pelo coro da platéia. Claro, não faltaram os momentos clichês com Tom Chaplin falando frases em português (acima da média, por sinal), pegando bandeira do Brasil na mão de um fã e derramando elogios ao público brasileiro. Até o baterista apareceu com a camisa da seleção canarinho no bis! Mas, sendo justo, até isso funcionou muito naturalmente dentro do contrato banda-público, sem exageros ou afetações.
Fim de show e, se não dá pra dizer que o lugar pegou fogo com a apresentação do Keane, pode-se com certeza lançar mão de um elogio não menos grandioso: foi impecável!